À luz da Doutrina Espírita o ser humano é dotado de livre arbítrio, ou seja, da faculdade de se autodeterminar, sendo, por isso mesmo, responsável pelos próprios atos, por exigência da lei natural de Ação e Reação. O mal ou o bem realizado causa-lhe dores ou alegrias, objetivando ensiná-lo a fazer escolhas sadias para si e a favor do próximo. O próprio Jesus revelou essa lei quando afirmou: “A cada um segundo as suas obras” (Mt, 16:27)
Sob esse prisma, é muito difícil garantir que certos acontecimentos previstos, que dependem de decisões livres do homem, possam ocorrer realmente.
Observando as tendências humanas, pode-se falar em possibilidades, jamais em inevitabilidade, pois o homem tem a liberdade de praticar ou deixar de praticar esse ou aquele ato.
Se um homem e uma mulher não estão felizes no casamento e, no limiar de novo ano, um vidente prevê a sua separação, ninguém pode assegurar o cumprimento de tal previsão, ainda que seja de fonte confiável. Por ter liberdade de escolha, o casal pode decidir por um feliz relacionamento e lutar com vontade e denodo para consolidá-lo. A previsão nesse caso cairá por terra, pois havia possibilidade de separação enquanto ocorria a desunião, previsão esta que qualquer um faria ainda mesmo sem ser médium ou paranormal. Brigar e deixar de brigar são opções do homem. São atos da sua vida moral.
Na questão 861, de O Livro dos Espíritos há a afirmação categórica:
“A fatalidade, que algumas vezes há, só existe com relação àqueles sucessos materiais, cuja causa reside fora de vós e que independem da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte, tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade.”
Em resumo, não há irrevogabilidade, inevitabilidade em atos que emanam da liberdade humana de escolher, como também não há com relação aos acontecimentos que dependem necessariamente desses atos.
O estudo minucioso do Espiritismo ajuda a compreender e avaliar melhor certas previsões que pululam no nosso cotidiano.
Previsões sérias, que sempre produzem benefícios para o homem, por isso permitidas por Deus, existem no campo mediúnico e paranormal e que se cumprem, especialmente as relacionadas com fatos materiais. Outras existem no campo das possibilidades, como já dito, e, por isso mesmo, poderão ocorrer ou não, pois dependem de decisões humanas. Porém não se pode negar que muitas proliferam, nascidas que são de fantasias e de ânsias de notoriedade.
Segundo Allan Kardec (Gênese, Cap. XVI, itens 16 e 17), os Espíritos ligados à Terra, quando conhecem as datas em que certos fatos ocorrerão, podem determiná-las nas suas previsões. Mas nem sempre eles têm permissão para isso. Quando minúcias, a exemplo de datas, dependerem do livre arbítrio do homem, estas não poderão ser fixadas em razão da liberdade humana de escolha.
Assim, as predições minudenciadas, segundo o Codificador, não podem oferecer certeza e só devem ser aceitas como probabilidades. Em razão disso os Espíritos sábios não estabelecem datas fixas nas previsões. Eles simplesmente nos previnem sobre o que devemos conhecer. E tem mais, se insistirmos ante o médium em receber dados precisos, corremos o risco de ser enganados por espíritos levianos, que predizem tudo, sem nenhuma responsabilidade com a verdade e se divertem com as decepções que nos causam.
Kardec também nos adverte acerca da forma misteriosa e cabalística de predições como as de Nostradamus. Segundo ele, a forma apresentada por elas gera prestígio para o vidente, prestígio este tanto maior quanto mais incompreensíveis forem. Mas são ambíguas, geram interpretações diferentes, prestando-se a tudo que se queira.
Em o Livros dos Médiuns (Cap. XXVI, item 289) os Espíritos informam que “se o homem conhecesse o futuro, descuidar-se-ia do presente” e que “a manifestação dos Espíritos não é um meio de adivinhação”. Também aí reafirmam que se insistirmos em saber sobre o futuro, poderemos ser ludibriados por espíritos mistificadores.
Nesse mesmo item há a confirmação de que o Espírito pode prever coisas, que pode julgar vantajosa a sua revelação e que pode ter a missão de divulgá-las. Instruem-nos os Espíritos que, por isso mesmo, devemos nos precaver contra os já ditos Espíritos enganadores; que devemos desconfiar das previsões que não tenham utilidade geral e que predições pessoais quase sempre são falsas.
Não nos detenhamos ante previsões e mais previsões que se avolumam diariamente. Confiemos em Deus, Pai amado, a infinita misericórdia e bondade, que somente quer o nosso bem, o nosso crescimento espiritual, o melhor para nós.
Sofrimentos dos mais diferentes matizes integram o cenário deste mundo de Expiações e Provas. Os que pudermos afastar, afastemos corajosamente, com empenho, mas de forma ética, para não gerarmos mais dores para o futuro. Mas, ante os sofrimentos irreversíveis, como doenças incuráveis, acidentes que marcam profundamente a vida, mortes na família, façamos o esforço perseverado de cultivar a resignação. Atitudes de revolta e lamentações só aumentam a dor.
Curvemo-nos, então, ante o Pai Celeste, serena e confiantemente, rogando-lhe coragem, força e estímulo. O Pai Celeste jamais deixa a criatura ao desamparo. A sua infinita misericórdia nos ajudará a cicatrizar as feridas, a secar as lágrimas, a repor e fortalecer a esperança e o otimismo nas nossas almas.
Osvaldo Ourives
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