Quando compulsamos algumas traduções do Velho Testamento, como a da Ed. Ave Maria Ltda, 30ª Edição, Tradução do Centro Bíblico Católico, encontramos em Números, 20:6:
“Se alguém se dirigir aos espíritas ou aos adivinhos para fornicar com eles, voltarei o meu rosto contra esse homem e o cortarei do meio do seu povo”.
E em Deuteronômio, 18:10-11:
“Não se ache no meio de ti quem ... se dê... ao espiritismo, à adivinhação...” Grifos nossos.
É muito estranho que as palavras Espírita e Espiritismo, criadas em 1857, apareçam em textos atribuídos a Moisés, portanto, escritos em alguma data do século XIV a.C., quando viveu o seu autor.
Somos forçados a concluir que a inserção dessas palavras no mencionado texto representa uma manipulação com o objetivo de afastar fiéis da possibilidade de sua adesão ao Espiritismo, atemorizando-os com tais proibições, na medida em que crêem cegamente na Bíblia.
Esta estranheza é bem maior quando a versão do Pe. Antonio Pereira Almeida, feita no século XVIII, entre 1784 e 1790, antes do advento do Espiritismo, faz uso das palavras mágicos no lugar de espíritas e de Píton no lugar de espiritismo, e a versão de João Ferreira de Almeida, de quase 300 anos utiliza a palavra necromante. A Bíblia Tradução Ecumênica, das Paulinas e Edições Loyola, também não faz uso das palavras Espiritismo e Espírita.
Fazemos tais colocações não só como um esclarecimento necessário, mas, também, como forma de introduzir o leitor na compreensão da origem dos verbetes espiritismo e espírita.
O Novo Dicionário de Aurélio diz que a palavra Espiritismo é de origem francesa: spiritism.
Já o Dicionário Houais, mais completo na definição desse verbete, diz que espiritismo é de origem francesa, criado em 1857, significando “doutrina de cunho filosófico-religioso, de aperfeiçoamento moral do homem através de ensinamentos transmitidos por espíritos mais aprimorados de pessoas mortas, que se comunicam com os vivos esp. através dos médiuns”. Quanto ao verbete espírita, indica-o como de origem também francesa, spirite, datando de 1857 e significando adepto do espiritismo.
As palavras Espiritismo e Espírita são de origem francesa pois foram criadas pelo codificador do Espiritismo, Allan Kardec, por ocasião do lançamento de O Livro dos Espíritos, publicado em 18 de abril de 1857, em Paris, França, conforme se lê na parte introdutória dessa obra.
Impactantes fenômenos espirituais irromperam numa cabana, residência da Família Fox, povoado de Hydesville, condado de Wayne, no Estado de Nova Iorque, Estados Unidos, em março de 1848, despertando a atenção e interesse de várias centenas de pessoas no seu inicio e, depois, de milhares e milhares de outras, não só daquele País, como de resto em diversos outros, inclusive da Europa, como Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Áustria, Bélgica, Portugal, etc.
Esses fenômenos, após investigações realizadas, foram atribuídos ao espírito desencarnado Charles B. Rosma, assassinado por antigos moradores naquela casa, em 1843. O leitor interessado em aprofundar o conhecimento sobre o assunto poderá consultar A História do Espiritismo, de Arthur Conan Doyle, Ed. Pensamento, As mesas Girantes, de Zêus Wantuil, Ed. FEB, entre várias outras insuspeitas obras.
Este último indica todos os órgãos da imprensa da América do Norte, da Europa e até do Brasil que se ocuparam em noticiar densamente as ocorrências experimentais com referidos fenômenos a partir dos idos de 1848.
Referidos fenômenos evoluíram de ruídos diversos, como arranhões e pancadas no interior de móveis, paredes e assoalhos, indicativos das letras do alfabeto, para as comunicações através da cesta-pião ou psicografia indireta,depois de passarem pelas mesas falantes.
A partir de Hydesville, ocorreu, no dizer de Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, na obra citada, “uma invasão organizada dos espíritos”, pois os fenômenos cobriram um ampla área geográfica da terra, justamente para oferecer à humanidade provas materiais sobre a existência e sobrevivência do espírito e, de forma indireta, comprovar a existência do mundo espiritual, pátria de onde viemos e para onde retornaremos após cada morte biológica.
Em maio de 1855, em Paris, o Professor francês Hippolite Léon Denizard Rivail tomou contato direto com os famosos fenômenos, os quais, a partir de então, tomaram novo rumo e foram colocados no seu verdadeiro lugar. O Prof. Rivail possuía formação em Ciências e Letras, era conhecido e reconhecido nacionalmente na França como grande pedagogo, por suas inúmeras obras escritas, a exemplo da Gramática Clássica Francesa, adotada pela Universidade local, e prestara relevante serviço ao ensino público do seu país. Foi destacado discípulo direto de Jean Henri Pestalozzi.
Nesse e outros contatos com os fenômenos espirituais, aos quais dedicaria a sua vida, ele, realizando observações e utilizando o método experimental, como fazia desde os 16 anos, buscou, pelo exame rigoroso dos efeitos, estabelecer as suas causas e as suas conseqüências. Avançando nas pesquisas, detectou, de forma insofismável, a existência e sobrevivência do espírito, os mecanismos e finalidades da sua comunicação com os homens. Desse sublime labor, das suas pesquisas e das lições dos Espíritos Superiores, através de inúmeros médiuns insuspeitos, e aplicando metodologia que lhe dava e nos dá até hoje segurança e confiança no trato com médiuns e espíritos, ele recolheu um conjunto de ensinamentos que esclarecem sobre a origem, a natureza e o futuro do homem, sobre a razão da dor e do sofrimento, entre outras inumeráveis e importantes questões cujo conhecimento contribui para nossa libertação.
O trabalho profícuo desse mestre resultou na publicação, sob a orientação do Espírito de Verdade, de:
- O Livro dos Espíritos na data já mencionada, que contém uma síntese da Doutrina Espírita. Grande parte do conteúdo deste livro é ampliada nas demais obras.
- O Livro dos Médiuns, publicado em 1861, que orienta sobre a parte experimental e amplia conceitos sobre a intervenção dos espíritos no mundo corporal.
- O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1864, contém explicação das máximas morais do Cristo e amplia conceitos sobre as Leis Morais.
- O Céu e o Inferno, 1865, contém exame comparado das doutrinas espiritualistas sobre a passagem da vida corpórea à vida espiritual e amplia conceitos sobre as penas e recompensas futuras.
- A Gênese, 1868, contém explicação sobre a gênese, milagres, predições e amplia conceitos sobre Deus.
- Obras Póstumas, 1890, coletânea de escritos do Codificador sobre diversos, inclusive sua iniciação no Espiritismo.
- O Que é o Espiritismo, 1859, obra introdutória ao estudo da Doutrina Espírita.
Todas as suas obras espíritas foram publicadas sob o pseudônimo de Allan Kardec, nome que tivera no século I a.C, quando estava encarnado na Gália como sacerdote druida.
Qualquer corrente de pensamento que preconiza a sobrevivência do homem é, por isso mesmo, espiritualista. Nesse sentido todas as religiões são espiritualistas, constituem uma forma de espiritualismo.
O Espiritismo é espiritualista, da mesma forma que o Catolicismo, o Protestantismo, e o Budismo.
O espiritualismo, no dizer de Allan Kardec é um gênero do qual as suas formas são espécies.
O Espiritismo é espiritualista, da mesma forma que o Catolicismo, o Protestantismo, e o Budismo.
O espiritualismo, no dizer de Allan Kardec é um gênero do qual as suas formas são espécies.
A Doutrina dos Espíritos é uma forma de espiritualismo que, para se distinguir das demais, foi designada pelo nome de Espiritismo, que tem como base as relações dos homens com os espíritos desencarnados. Para distinguir o seu adepto do espiritualista comum passou a ser chamado de espírita ou espiritista.
Tanto Espiritismo quanto Espírita, como já foi dito antes, foram neologismos criados em 1857 por Allan Kardec pelos motivos expostos.
O Espiritismo com os seus princípios assenta-se sobre três aspectos, os quis são:
Científico, que comprova a existência e sobrevivência do espírito através dos fenômenos mediúnicos.
Filosófico, que esclarece sobre Deus, nosso destino, as razões da dor, o evolucionismo espiritual, etc.
Religioso, que nos aproxima de Deus pela prática do amor e da caridade, fomentadora da nossa transformação moral, e sem as práticas do culto externo.
São princípios fundamentais do Espiritismo:
1 – Existência de Deus
2 – Existência e Sobrevivência do Espírito
3 – Evolucionismo Espiritual
4 – Lei de reencarnação
5 – Pluralidade dos Mundos Habitados
6 – Lei de Ação e Reação
7 – Comunicação dos Espíritos
8 – Leis Morais, de que Jesus é Modelo
Estes princípios e aspectos conferem identidade própria à Doutrina Espírita, definem a sua configuração.
Dessa forma, quem possui pelo menos estes conhecimentos sobre o Espiritismo não pode confundi-lo com Candomblé ou Umbanda, que são expressões religiosas respeitáveis, mas que possuem origem, natureza e práticas diferentes, mesmo fazendo uso do mediunismo que existiu em todas as épocas, fora ou dentro das religiões.
Os ensinamentos espíritas objetivam a regeneração moral do homem e as suas práticas são gratuitas, seguindo a orientação evangélica: “Daí de graça o que de graça recebestes”.
De tudo quanto foi exposto, podemos dizer que o espiritismo não tem sacerdotes e nem adota:
- altares,
- vestes especiais,
- amuletos,
- imagens,
- alcoólicos,
- horóscopos,
- andores,
- alucinógenos,
- cartomancia,
- velas,
- incenso,
- pirâmides,
- procissões,
- fumo,
- cristais,
- sacramentos,
- talismãs,
- danças,
ou quaisquer outros objetos, rituais ou formas de culto exterior.
Osvaldo Ourives