O dia 03 de outubro é profundamente
relevante para os espíritas. Nesta mesma data, no ano de 1804, em Lyon, França,
às 19 horas, nasceu aquele que, 51 anos depois, começaria a receber dos
Espíritos Superiores o conjunto dos ensinamentos que compõem o Espiritismo,
para organizá-los e dar-lhes publicidade na forma de livros.
Referimo-nos a Hippolyte Léon Denizard Rivail que, de forma magistral e intimorata, dando o melhor de si, aplicando os seus grandiosos e reconhecidos recursos morais e intelectuais, cumpriu com fidelidade a abençoada missão de disponibilizar aos contemporâneos e à posteridade a abençoada, eminentemente esclarecedora e consoladora Doutrina Espírita, sob o pseudônimo de Allan Kardec.
Com essa majestosa tarefa Hippolyte
Rivail foi valiosíssimo agente superior que permitiu fosse cumprida uma
promessa do Cristo de dois mil anos atrás. O Cristo prometera (JO 14:15 a 17 e 26) que o Pai Celeste,
por solicitação sua, enviaria outro Consolador para ensinar todas as coisas e
fazer lembrar o que Ele havia ensinado.
A humanidade,
daquela parte até o século XIX, evoluiu, conquistando o ensejo de receber
aqueles ensinamentos que Jesus não pode transmitir e, no mesmo período, também,
os ensinamentos crísticos originais foram deturpados, perdendo sua força
libertadora junto à humanidade. Basta se veja que a instrução cristã de que a
conquista da vida eterna depende necessariamente da prática pura e
incondicional da caridade (Lc 10:25 a 37) foi substituída pelo culto externo,
pela “salvação” adquirida a peso de ouro e de moedas.
Não é preciso
ser muito inteligente para ter tal percepção, a não ser que se queira tapar o
sol com uma peneira. A História Geral é rica de informações sobre o que escrevemos.
Quem pode a esta altura negar a venda de indulgências? Ou os morticínios em
nome de Deus perpetrados pelos inquisidores? Ou as vultosas cobranças
pecuniárias em troca dos benefícios celestes nos templos ditos de oração e
louvor?
O Espiritismo ou
Doutrina Espírita veio na época aprazada cumprir a promessa solene do Cristo, ensejando-nos
conhecer os ensinamentos esquecidos e muitos outros que já podemos absorver.
A Doutrina Espírita
resgatou o Cristianismo das impurezas com que as paixões humanas o sepultaram. Este
resgate lhe restitui sua força libertadora. Desfraldando a bandeira “Fora da
caridade não há salvação”, o Espiritismo busca realizar o que afirmaram os
Espíritos Superiores:
“Estamos
incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou” (LE Questão 673).
Todos hão de convir que para realizar um
trabalho desse porte deveria ser escolhido espírito de grande evolução, com
credenciamento conquistado ao longo de milênios, sobrepujando vicissitudes,
dores e sofrimentos.
Hippolyte Léon Denizard Rivail preenchia todos estes requisitos. Esteve ele no séc.I a.C. encarnado como um sacerdote druida com o nome de Allan Kardec, utilizado como pseudônimo para publicação das obras espíritas.
Informam os espíritos que ele reencarnou
depois, tornando-se um dos discípulos do Cristo.
Há informações de que ele foi Jan Huss,
na Boêmia, seguidor das idéias de John Wycliffe e precursor da reforma
protestante, sendo morto em 1415 na fogueira, condenado pela Inquisição
Pela evolução alcançada e por tudo
quanto consolidou moral e intelectualmente no passado, Hippolyte ajustava-se
aos caracteres necessários ao desenvolvimento da missão que lhe foi confiada.
Sua obra era dar o imprescindível apoio
humano ao advento do Consolador Prometido por Jesus, que seria uma avançada
filosofia espiritualista assentada em aspecto científico com consequências
religiosas.
Seria uma árdua e espinhosa tarefa, como
realmente foi. Nos meados do séc. XIX, o materialismo, em cujo combate o
Espiritismo viria contribuir fortemente, como que renascia robustecido com o
marxismo e o positivismo, exigindo de Allan Kardec e seus continuadores maior
dose de coragem, paciência, desprendimento e amor à causa do Cristo.
Hippolyte recebeu dos pais Jean-Baptiste
Antoine Rivail e Jeanne Louise Duhamel a melhor educação possível, sendo aos 10
anos de idade encaminhado para o Instituto Pestalozzi, em Yverdun, Suiça,
escola modelo reconhecida mundialmente, fundada e administrada por J. H.
Pestalozzi, educador pioneiro da reforma educacional. Vale
ressaltar que por esse Instituto passaram educandos que se tornaram célebres, a
exemplo de Froebel, fundador do jardim de infância.
Retornando à França, lança em 1823, o
seu primeiro livro de cunho pedagógico, que escreveu aos 18 anos, de acordo com
o método de Pestalozzi. Vários outros livros didáticos se seguem, como também
projetos e planos para melhoria do ensino na França. Em 1826 fundou, em Paris,
o Instituto Rivail, onde exerceu funções de direção e educação. Casando-se em
1832 com a escritora e professora Amélie-Gabrielle Boudet, passa então a contar
sempre com o apoio desta.
Em fins de 1854 ele tomou contato com os
fenômenos mediúnicos espalhados pelo mundo como uma “invasão organizada pelos
espíritos”, no dizer de Conan Doyle. Nesse tempo ele já era respeitado em toda
a França como grande mestre da Pedagogia e agraciado com numerosos títulos
concedidos por Academias.
Nos primeiros contatos com os fenômenos,
não diretos, mas por ouvir dizer, buscou explicação através da ciência e do
magnetismo para justiçar a movimentação de objetos, como a mesa girante.
Em maio de 1855, indo com o amigo
Fortier à casa da Sra. Roger, sonâmbula, encontra-se com o Sr. Pâtier e a Sra.
Plainemaison que lhe falaram de forma bem convincente sobre os tais fenômenos.
Convidado que foi à casa da Sra. Plainemaison para ter contato direto com os
ditos fenômenos, aceitou imediatamente.
Na casa da mencionada Sra., rua
Grange-Bateliére, 18, presenciou o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e
corriam, em condições que não deixavam dúvidas, como ele mesmo diz em Obras
Póstumas.
Presenciou aí também a escrita mediúnica
em ardósia com auxílio de uma cesta. Depois de muito observar, analisar e deduzir,
concluiu que havia ali algo de sério, como que a revelação de uma lei que decidiu
estudar a fundo.
Outras ocasiões surgiram para as suas
pesquisas e observações. O
Sr. Baudin convidou-o para assistir às sessões semanais que ocorriam em sua
casa. As duas médiuns eram as Srtas. Baudin, suas
filhas, que escreviam sobre uma ardósia com a ajuda de uma cesta, dita pião,
descrita em O Livro dos Médiuns.
Foi lá que ele fez os primeiros estudos
sérios em Espiritismo, menos pela revelação do que pela observação.
“Apliquei a essa nova ciência, como o
fizera até então, o método da experimentação; jamais ocasionei teorias
preconcebidas: observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos
efeitos procurava remontar às causas, pela dedução e o encadeamento lógico dos
fatos, não admitindo uma explicação como válida senão quando podia resolver
todas as dificuldades da questão”. (OP)
“Comecei ali a procurar resolver os
problemas que me interessavam do ponto de vista da filosofia, da psicologia e
da natureza do mundo invisível; chegava a cada sessão com uma série de
perguntas preparadas, e metodicamente arrumadas; elas eram sempre respondidas
com precisão, profundidade, e de maneira lógica”. (OP)
“De início, não tivera em vista senão a
minha própria instrução; mais tarde, quando vi que isso formava um conjunto
e tomava as proporções de uma doutrina, tive o pensamento de publicá-las para a
instrução de todo o mundo. Foram as mesmas perguntas que, sucessivamente
desenvolvidas e completadas, fizeram a base de O Livro dos Espíritos”. (OP)
“No ano seguinte, em 1856, segui ao mesmo tempo as reuniões espíritas que se tinham na rua Tiquetone, na casa do Sr. Roustan e Srta. Japhet, sonâmbula. Essas reuniões eram sérias e mantidas com ordem. As comunicações ocorriam por intermédio da Srta. Japhet, médium, com a ajuda de uma cesta de bico.
Meu trabalho estava em grande parte terminado, e tomava as proporções de um livro, mas pretendia fazê-lo controlado por outros Espíritos, com a ajuda de diferentes médiuns.
“Foi assim
que mais de dez médiuns prestaram a sua assistência para esse trabalho. Foi
da comparação e da fusão de todas essas respostas coordenadas, classificadas, e
muitas vezes refundidas no silêncio da meditação, que formei a primeira edição
de O Livro dos Espíritos, que
apareceu a 18 de abril de 1857”. (OP) (Grifos nossos).
A primeira
edição mencionada continha 501 questões. A edição definitiva como a conhecemos
hoje foi publicada em 18 de março de 1860, com 1019 questões, tendo sido enriquecida
com mais ensinamentos esclarecedores e com a supervisão dos Espíritos
Superiores. Mas a revelação dos espíritos não se restringe apenas ao Livro dos
Espíritos. Allan Kardec também publicou:
1861 – O Livro dos Médiuns
1864 – O Evangelho Segundo o Espiritismo
1865 – O Céu e o Inferno
1868 – A Gênese
Estas últimas obras desdobram e
complementam os ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos, e com o qual constituem
as Obras Básicas do Espiritismo, ou o Pentateuco Kardecista, onde encontramos o
conjunto dos ensinamentos que a Espiritualidade Superior, sob a direção do
Espírito de Verdade, utilizando os recursos humanos, revelaram à Terra.
Além destas obras o Kardec publicou
outras em apoio à Codificação, como:
- O Que é o Espiritismo (1858), de
caráter propedêutico, introdutório, que facilita compreensão do Livro dos
Espíritos;
- Instrução Prática Sobre as
Manifestações Espíritas (1858), que foi absorvido pelo Livro dos Médiuns,
publicado em 1861.
- A Revista Espírita - RE (1858 a 1869),
obra em que o codificador defendia a Doutrina das acusações e se interagia com
o público, mantendo-o informado sobre o
seu desenvolvimento;
- Obras Póstumas (1890), contendo textos
de Kardec já publicados na RE e outros inéditos.
Não pense o querido leitor que a chegada
do Consolador Prometido ocorreu pacificamente na Terra. Não. Uma oposição
sistemática se erigiu no Planeta da parte de religiosos dogmáticos e fanáticos,
de materialistas e de outros que tiveram seus interesses mesquinhos ameaçados.
O trabalho de Kardec foi imenso, grandioso. Sofreu perseguições, acusações,
calúnias e difamações. A tudo isso opôs o seu caráter afável, pacífico, calmo,
compreensivo e destemido. O seu papel foi tão importante quanto o dos Espíritos
Superiores encarregados do advento. E Kardec era um deles, só que encarnado!
Alan Kardec sacrificou a própria saúde
física em prol de todos nós, porque foi com o seu indispensável concurso que
temos hoje a clarear-nos a consciência e os horizontes da humanidade esta
Doutrina eminentemente consoladora e que transmite a verdade que nos liberta
dos grilhões da ignorância, dos erros nefandos que nos prendem à gleba
terrestre por incontidas atitudes egoístas e orgulhosas, que nos liberta do
fanatismo que encobre a maldade com o adorno da hipocrisia e da busca
salvacionista!
Ele acordava cedo e trabalhava até altas
horas da noite para que a Doutrina se consolidasse! Nenhum número da Revista
Espírita que pessoalmente mantinha deixou
de ser publicado.
O Espírito de Verdade já lhe tinha dito:
“...A missão dos reformadores está cheia
de escolhos e de perigos; a tua é rude, disso te previno, porque é o mundo
inteiro que se trata de abalar e transformar. Não creias que te baste publicar
um livro, dois livros, dez livros, e permaneceres tranquilamente em tua casa;
não, ser-te-á preciso expor-te ao perigo; levantarás contra ti ódios
terríveis; inimigos obstinados conjurarão a tua perda; estarás em luta contra a
malevolência, a calúnia, a traição mesmo daqueles que te parecerão os mais
devotados; tuas melhores instruções serão desconhecidas e desnaturadas;
mais de uma vez, sucumbirás sob o peso da fadiga; em uma palavra, será uma
luta quase constante que terás que sustentar, e o sacrifício de teu repouso, de
tua tranqüilidade, de tua saúde, e mesmo de tua vida, porque sem isso
viverias por muito mais tempo”. (OP) (Grifos nossos)
Em 31 de março de 1869, entre 10 e 11
horas, ao entregar um número Revista Espírita a um caixeiro de livraria,
curvou-se sobre si mesmo, sem proferir uma única palavra, estava morto.
Alexandre Delanne, seu amigo e pai de Gabriel Delanne, que se tornaria
pesquisador e escritor espírita, acorre pressuroso. Magnetizador que era,
fricciona-o, aplica-lhe passes, mas nada... Tudo acabado para o plano material.
Cumpriu o seu dever. Desempenhou, e com sacrifício, a tarefa que lhe foi
confiada.
É nosso dever, leitor, sobretudo como gratidão,
jamais deixar de homenagear o insigne mestre lionês, especialmente no seu
natalício. Homenagem pelo muito que fez pelo Espiritismo e pelo homem na Terra,
pelo muito que fez por nós espíritas, fornecendo-nos os recursos que nos
regatam da idolatria, do ritualismo e do fanatismo, e que nos apresentam Jesus como o modelo da
perfeição a que pode aspirar o homem para a conquista da felicidade plena.
Que Jesus o abençoe sempre Hippolyte
Léon Denizard Rivail, Allan Kardec, excelso Codificador do Espiritismo!
Osvaldo Ourives
Nenhum comentário:
Postar um comentário