CLÁUDIO BUENO DA SILVA
Parte
apreciável da obra que compõe a estruturação do Espiritismo foi escrita por
Allan Kardec. O teor dos textos que escreveu – de alta moral –, desenvolvendo
profundas reflexões de interesse para a humanidade; seus artigos, refutações,
notas e complementos mostram a pujança intelectual do mestre, sua
responsabilidade com a verdade e o sério compromisso assumido na fundamentação
e divulgação da doutrina filosófica que nascia.
Cuidando
de tudo com muito zelo, organizou um livro dedicado especialmente às questões
mediúnicas, “O Livro dos Médiuns”. Também nas edições mensais da Revista
Espírita, tratou fartamente da mediunidade, no sentido de bem esclarecer e
orientar sobre assunto tão delicado e às
vezes até perigoso. Não faltaram a Allan Kardec, a avaliação, o critério, o
método, próprios da abordagem científica, pois ele mesmo referiu-se a esses
estudos como uma nova ciência que nascia.
Num
de seus textos, muito conhecido pelos que estudam a Doutrina, que se pode
encontrar na Revista Espírita, ano de 1863, mês de maio, com o título “Exame
das comunicações mediúnicas que nos enviam”, Allan Kardec expõe os cuidados que
os médiuns precisam ter quanto à divulgação do que recebem via mediúnica.
Diz,
num certo trecho: “que não se publique inconsideradamente tudo quanto vem dos
Espíritos, desde mensagens curtas até trabalhos de maior volume”.
Sobre
estes últimos, Kardec afirma: “Resta-nos dizer algumas palavras sobre
manuscritos ou trabalhos de fôlego que nos mandaram, entre os quais, sobre
trinta, encontramos cinco ou seis de real valor. No mundo invisível como na
Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros. Tal Espírito é apto a
ditar uma boa comunicação isolada, a dar excelente conselho particular, mas
incapaz de um trabalho de conjunto completo, que suporte um exame”...
Mais
adiante, remata: “Eis por que, ao lado de alguns bons pensamentos,
encontram-se, por vezes, ideias excêntricas e os traços menos equívocos da mais
profunda ignorância”.
Imaginemos
uma obra com alguns conceitos não bem filtrados, que possam causar dúvidas e
controvérsias, circulando e sendo lida por milhares de pessoas. E se várias
obras com o mesmo problema chegarem aos hipermercados, livrarias, bibliotecas
etc.? Dá para imaginar o estrago. É compreensível que a grande maioria das
pessoas, atualmente mais e mais atraídas pelas ideias espíritas, não saiba
separar o joio do trigo, o que nem sempre é tão fácil assim.
Daí
ser forçoso lembrar a conhecida frase de Erasto, Espírito: “Melhor rejeitar
nove verdades do que aceitar uma só mentira”, referindo-se aos textos colhidos
mediunicamente, mas não só a eles.
Há
ainda, conforme Allan Kardec, outra coisa séria com que os médiuns precisam se
preocupar: “É nestas espécies de trabalhos mediúnicos (as psicografias longas)*
que temos notado mais sinais de obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a
injunção (imposição)* da parte do Espírito de os fazer imprimir... É em
semelhante caso que um exame escrupuloso se torna necessário... Todas as
precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis... Em tais casos,
mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa”.
O
final do texto de Allan Kardec serve de alerta a todos nós: ...“publicando
comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são
fracas, insignificantes ou más, faz-se mais mal do que bem”.
Nunca
será demais relembrar os conselhos de Allan Kardec.
* acréscimos do autor.
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